sábado, 9 de julho de 2011

outrosinversos

Não posso ser julgado pelo que há nestas linhas exposto. Se há culpa a ser atribuída, só será devida se for aos Outros. Aos compositores do pensamento, que me fazem aqui mero instrumento para que se façam então conhecidos. Sou simplesmente extensão, a parte tangível dos abstratos que abrigo. Apresento-me como estrutura conectiva, uma ponte, para que os Outros-Inversos possam, arbitrariamente, exercer sua liberdade de ir e vir. Os caminhos que traço, as idéias, os vocábulos, são eles em suas buscas constantes por espaço. Os erros, os medos, os sonhos, tudo que for revelado, só pertence a eles e não a mim; eu apenas relato, retrato. E tudo que a minha vista alcança eles se apossam, transformam em lança para que atinjam o alvo que planeja. E qualquer coisa, o que quer que seja, entra na mira e vira objetivo a ser almejado. Os Outros são implacáveis. Moldam tudo o que detêm. Transformam grandes informações em simples estrofes com versos curtos. Um simples vaso com flores eles distorcem e apresentam como um inexplicável mundo. Codificam como querem visões revolucionárias e tradicionais. E mais: vão além do visível. Dizem sobre o impossível, o improvável. Louvam e blasfemam no mesmo cenário. Se disfarçam. Vestem-se de júri, vítimas, juízes e culpados. E fazem de mim seus braços. Porque mantê-los?! Confesso a incapacidade de expulsá-los. Os Outros se fazem em mim, mas apenas com eles me faço. Posso, talvez por isso, ser mal visto. Mas entre o louco e a loucura quem é o "absolvido"?! Vejo neste o meu caso. Não mais estenderei esta explanação. Espero ter sido claro, e remido. Embora não esteja certo se esta não era exatamente a estratégia dos Outros para que fossem, mais uma vez, por mim enaltecidos.

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